31 dezembro, 2009

lentilha

Alguém já ouviu a palavra 'prosperidade' sem ser no ano novo?

31/12, 23h


Amanhã não é outro dia, mas outro ano,
Nada pode ficar igual (mas ficará)
Não me irritam mais as resoluções dos humanos,
Só fico triste de não comemorarmos assim
A troca dos dias, do mês e das semanas.
Quem sabe até a troca das horas.
Na próxima hora vou querer mudar tudo.

16 dezembro, 2009

dogville

o mais foda do filme é o sentimento de alívio e felicidade que dá ver todo mundo morrendo.

05 dezembro, 2009

A Peste

Camus, o cara era bom. O livro é todo de metáforas entre a situação descrita com a peste e a ocupação nazista na França. O livro acaba assim:

"Na verdade, ao ouvir os gritos de alegria que vinham da cidade, Rieux lembrava-se de que esta alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para a desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."


E aí?

04 dezembro, 2009

bicicleta


A única lembrança razoável que tenho do meu pai foi que ele me ensinou a andar de bicicleta. Lembro de ter uma bicicleta que ele me deu, depois uma laranja que meu vô me deu, depois uma azul. Não sei qual foi o fim de nenhuma delas.

Bicicleta sempre foi meio neutro, entre os patins que eu gostava e o skate que vários outros gostavam. Andávamos na rua toda criançada, lembro quando era emocionante dar uma volta no quarteirão, bacaníssimo andar pela calçada, brincar de siga o mestre... e empinar? Uou! Uma vez um amigo estava empinando e a roda da frente saiu da bicicleta, poft! Outra vez eu joguei um pedaço de vassoura na roda de outro amigo e ele caiu. Depois apanhei dele como nunca mais apanhei na vida.

Comprei hoje, R$250 reais no Tito, lojinha que durante minha infância inteira eu fui arrumar minhas bicicletas, ele não lembrava de mim obviamente, mas lembrava do meu avô. Sempre gostei da idéia de bicicletas como meio de transporte, mas nunca achei que realmente desse certo. Resolvi ir hoje ao trampo de bike!

Moro no carrão e trabalho no Jardins, eis o mapinha:



Saí de casa animado, e antes de 200m caiu a corrente, beleza, arrumei. Fui pra ciclovia da Radial, caiu denovo e arrumei, percebi que era uma marcha x que fazia a corrente cair e não coloquei mais nela. Qual não foi a minha surpresa quando vi que a ciclovia acabava no Tatuapé, ou seja, a partezinha vermelha no mapa. Depois adrenalina pura.

Quando eu andava de patins adorava pegar rabeira, tesourar carros e causar pra caralho. Mas pelo contrário fiquei me cagando de medo dos carros e principalmente caminhões e ônibus, os caras são totalmente sem noção com bicicletas, tomei centenas de buzinadas mesmo indo pelo cantinho e tal. Me cansei algumas vezes, parei pra respirar mas não andei nem 1m sem ser pedalando.

Depois, diferente do que mostra no mapa, eu subi a Augusta, onde o meu pedal quebrou e tive que parar na Haddock pra comprar, por R$20, outro. A travessia durou 1h30 e cheguei na livraria todo ridículo orgulhoso, as pessoas comentavam 'não acredito' e eu, bem idiota, ficava feliz.

A volta foi mais rápida e mais tranquila. A Radial não tava tão cheia, descer a Consolação é ótimo e choveu água de piscina no calor em mim. Mesmo com o óculos todo molhado ignorei e fiquei feliz com a chuva. Ah, esqueci de falar dos buracos. Várias vezes uns buracos surreais brotavam e eu me cagava mais ainda, já pensou perde o equilíbrio cai no chão carro passa e já elvis. Não me cansei e adorei mesmo, mas não sei se quero ir denovo.

Quero ciclovias. Chegando na minha rua, andei pela calçada e guardei a bicicleta como eu fazia há 15 anos atrás.

03 dezembro, 2009

amigo

Dia 2/12, aniversário do meu melhor amigo.

Melhor amigo é uma coisa tão antiquada e tão existente que me deixa encucado. Moramos de frente um para o outro desde antes de nos darmos por seres vivos, crescemos aprendendo coisas juntos e discordando em diversas coisas. Jogamos grande parte dos jogos de rua, de tabuleiro, de video-game juntos, pião, pipa, taco, jogo de botão, álbuns de figurinhas, tazos... Almoçávamos um na casa do outro, gostamos um da família do outro até hoje.

Começamos a nos separar quando começou o colégio, fizemos o fund 1 em colégios diferentes, ele no público João Borges, eu no Santo Antônio de mauricinho. Na 4ª série ele foi pro Santo Antônio e desde então nunca caímos na mesma sala. Tivemos amigos bem diferentes e cada ano nos acho mais diferentes um do outro.

Ele fez publicidade, tá trampando numa empresa bacana, eu fiz história e quero dar aula. Politicamente nem vou comentar. Fora as festas de colégio NUNCA saímos de balada juntos. Nunca o convenci de ir ao teatro comigo e ele não gosta dos livros que me aprazem. Nunca fomos amigos um da namorada do outro. Começamos a beber juntos, mas há anos e anos que não continuamos.

Nesses últimos oito anos, desde que saí do colégio e ele continuou. Desde que começamos a estudar 'de verdade', ficar com meninas de verdade e, principalmente, depois de começarmos a trabalhar quase nunca nos vemos. Não seria exagero dizer que, mesmo ainda morando um de frente pro outro, provavelmente tenhamos passado dias sem se ver, semanas, talvez até meses.

Mas talvez o bom da amizade, talvez, seja quando você está há muito tempo sem se ver e quando se encontram parece que brincaram ontem de esconde-esconde na rua.

02 dezembro, 2009

galeano

"Utopia [...] ella está en el horizonte. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. Para que sirve la utopia? Para eso sirve: para caminar"

Eduardo Galeano

01 dezembro, 2009

partidos

Democracia, já tive que escrever um texto de 30 linhas sobre esse tema np último semestre da faculdade, mas cada dia mais eu mesmo me questiono sobre ele.

Me sinto besta escrevendo aqui, mas relaxo quando lembro que quase ninguém lê e que no fundo, isso aqui é para eu me lembrar dos meus questionamentos no futuro. Me sinto besta porque existem tantas coisas bacanas escritas sobre esses debates, textos que eu podia estar lendo ao invés de propagar aqui meu ínfimo conhecimento e simples dúvidas.

Meu principal motivo de acreditar um pouco nessa democracia fingida que vivemos é o caso do Allende no Chile que, em 1970, tornou-se presidente democraticamente e começou a fazer mudanças sociais, mexer nas estruturas, até os EUA pirarem na batatinha e junto com os reacionários do país bombardearem o palácio e instaurarem uma das piores ditaduras já vistas.

Nunca as pessoas que realmente mandam, os donos do Capital com letra maiúscula, os que mandam por detrás dos que aparecem deixarão que alguma mudança seja feita. O PT mostrou-se uma piada de mal gosto. Esses dias no bar uma amiguinha falou que com a Marta era incrível e que o CEU no meio da periferia era lindo e a minha outra amiguinha respondeu (muito bem) que aquilo era puro Pão e Circo. A idéia nunca foi acabar com a 'periferia', acabar com as comunidades pobres, fazer com que elas tenham dignidade de viver, mas sim conforma-la. Dar um teatrinho, uma piscininha de modo que eles não reclamem de viverem explorados para que outros usufruam da riqueza que criam.

Outro debate que tem surgido diversas vezes nas últimas semanas. Anular voto, já tive diversas opiniões que seguem mudando, vale a pena votar no menos pior? Dar o meu voto não é um ato de corroboração ao sistema do qual ele é a teórica base? Mas anular muda algo? Alguém no mundo vê os menos de 10% de votos nulos como um protesto?

Enquanto isso vou seguindo nesse ostracismo de gerar a riqueza pro outro e não ajudar em nada a mudança que eu gostaria de ver.

03 novembro, 2009

Redação: Minhas Férias

Minhas férias foram bem legais. Não queria que elas acabassem amanhã. Percebi o quanto eu não faço coisas que eu gostaria de fazer, como ver amigos, ir no cinema ou mesmo não fazer nada. É muito difícil conciliar as coisas quando se trabalha 44h por semana e a folga em dias aleatórios.

O que eu menos gostei das minhas férias foi não ter ido viajar. Pensei tanto nisso mas aconteceram coisas que não deixaram que isso acontecesse. Queria ter ido pro Rio, pro Machu Picchu, para SC e para as cidades históricas de Minas, mas acabei indo só um dia pra Santos. Ficar em São Paulo foi legal também, até pareceu um pouco viajar, porque nos outros dias eu não consigo ver a cidade como vi nas minhas férias.

O que mais gostei foi ter conhecido pessoas bacanas. Gostei também de ter assistido um montão de filmes na Mostra de Cinema (quase 20). Poderia até ir assistir hoje, mas to cansado e desanimado só de pensar que amanhã volta ao normal. Fiquei muito feliz de conhecer as amigas da Takai, fiquei feliz de ver bastante a Takai, fiquei feliz de rever a Marina, rever a Isa, a Mari e as amigas e amigos delas, rever a Suzina, conhecer a Talitha, conhecer a graça da Mix e o brother dela Dudu, conhecer os amigos da Marina, etc, etc.

Agora vou voltar ao dia-a-dia corrido. O bom é que estou com saudades das pessoas incríveis que trabalham comigo. Mas não senti falta, como achei que sentiria, do trabalho em si. Fiquei feliz por isso. Prestei os concursos de professor da prefeitura e queria que desse certo. Gosto da Livraria, mas me sinto mal por não estar fazendo 'bem' pra ninguém lá.

30 outubro, 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Hoje perdi dois dos quatro filmes que eu assistiria.
Acordei tarde e perdi um que não me lembro o nome, mas cheguei a tempo para o que eu estava querendo:

Topografia de um Desnudo:
Teresa Aguiar / Arteplex

Com um ótimo elenco (Lima Duarte, Ney Latorraca...) reconta a triste história que ocorreu no fim de 1962 no Rio de Janeiro. O zuadérrimo Carlos Lacerda, na época governador da Guanabara, organizou a 'operação mata-mendigos' que o próprio nome diz o que é. Por causa da futura visita da Rainha Elizabeth no Brasil eles resolveram dar uma limpada na cidade e jogavam os mendigos no Rio Guandu.
Foi o primeiro filme da diretora que atua diretamente com ajuda aos moradores de rua. Achei bem bacana!

Nota: 4/5

Natimorto:
Paulo Machline / Arteplex

Ueba! Queria muito assistir o filme. Conheço o Lourenço Mutarelli e o admiro muito, ele escreveu o Cheiro do Ralo e escreveu o livro Natimorto, o qual esse o filme foi baseado. Não contente, é o personagem principal do filme. Já havia feito uma pontinha no Cheiro do Ralo, mas nesse a coisa é muito mais tensa.
Fiquei muito feliz, a sala estava mega lotada, com gente sentada no chão e o filme ficou incrível. O Lawrence tá ótimo e a Simone Spolladore é muito gata. Fora isso a direção foi ótima. Bem a cara dele e da obra dele o filme. Fiquei super curioso para saber o que as outras pessoas acharam, mas acredito que tenham gostado.

Nota: 5/5

Perdi o quarto filme por um ótimo motivo. Fui ver meu Palestra ganhar de 4x0 do Goiás!!!

29 outubro, 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Olha só! Hoje um monte de filme. Ontem tava com preguiça. Continuo com preguiça hoje, mas se não postasse já começaria a esquecer.

Travessia:
João Batista de Andrade / Arteplex
Filme sobre história contemporânea sempre sai com um ponto na frente comigo. Um documentário sobre a Ditadura saiu com vários, mas conseguiu perder durante os 80 minutos de filme.
O diretor estava lá, foi militante durante os anos de chumbo e inclusive ele, junto com outras pessoas da equipe, acabaram levando o Prestes e outros caras fodas para fora do Brasil. Tinha tudo para ser bom, mas é tão amador que irrita um pouco.
Sabe quando a câmera treme durante as entrevistas, o som era ruim e aumentava e diminuia, parecia que nem tinha tido edição. Os entrevistados são figurinhas batidas e não tinham muito mais a acrescentar do que já fizeram em outras oportunidades.
Não sei se foi por causa que vi outros documentários fantásticos como o Utopia e Barbárie, esse teve a proeza de não me agradar.
Infelizmente mesmo com o diretor lá, não tivemos debate.

Nota: 2/5

Rachel:
Simone Bitton / Arteplex
Saí correndo para a outra sala para assistir outro documentário. Esse trata da garota Racher Corrie, americana, que através de um programa de ativista foi para a Faixa de Gaza militar contra os ataques israelenses e foi morta.
Conheço só o básico do assunto e ver as condições dos palestinos é assustadora. É uma guerra ridícula, desigual. Os judeus (sem generalizar) que tanto sofreram fazem exatamente o mesmo com outro povo, é de irritar.
O filme como filme não é nada demais. Santifica a coitada da menina, mas mesmo assim é bacana.

Nota: 3/5

Jogo Duplo:
Johan Grimonprez / Arteplex
Fui correndo para a outra sala denovo para assistir um filme sobre Guerra Fria. Mas na verdade é um filme que faz um paralelo MUITO engraçado da obra do Hitchcock e a política dos Eua e URSS na época.
Sou ridículo em conhecimentos cinematográficos, mas fiquei com muita vontade de conhecer mais o Alfred e até comprei "Os Pássaros" na menina da Augusta que vende filminhos em frente o Espaço Unibanco.
Dei risadas, mas tive que sair um pouco antes do fim para assistir o esperado do dia, o que todo mundo tinha comentado comigo que seria um estouro, um dos melhores filmes do ano, várias críticas boas no festival do Rio, eis...

Independência:
Raya Martin / Arteplex

Uéon, uéon, uéééon.
A fila estava hiper-mega-gigantesca mas eis que aparece o Brunão e salvou minha vida, consegui marotar lá com ele e entrei a tempo de conseguir um bom lugar. Na verdade um bom lugar teria sido fora da sala.
Pensei no mínimo umas 19 vezes em sair antes de acabar. Admito que eu já estava um pouco cansado. Admito que tenho problemas com filmes extremamente 'artísticos'. Esse conta uma história nas Filipinas, é em preto e branco com algumas interferências de cores e se passa 90% em uma floresta.
Meu deus! Que porre! A única cena legal é quando o personagem principal perde seu filho na floresta no meio de uma tempestade. Até me deu uma acordada. Vou até falar o fim para vocês não assistirem: a mãe e o pai morrem e o menino se joga do penhasco e morre. Salvei vocês.
Quando saí perguntei pro Bruno que ele achou, segundo ele foi o melhor filme do ano.

Nota: 2/5 (1 ponto pela cena da tempestade)


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Hoje assisti:

Maré de Areia:
Gustavo Montiel Pages / Arteplex

Meu! Não esperava nada e foi legalzinho. É um filme argentino sobre um pintor, sua ex-mulher, seu filhinho e outros personagens que não interessam TANTO. É bem feito, tem uma fotografia bem bonita e uma história razoável sobre amor e muerte! :D

Nota: 4/5

Bananas!:
Fredrik Gertten / Bombril
Esse eu fui na pegada. Meu, a história de plantadores de bananas contra uma indústria fodida? Legal! É uma história ferrada mesmo, dá uma raiva desgraçada mesmo, neguinho para ganhar dinheiro acaba com a vida de quantos for preciso.
O que me irritou no filme foi o foco dado em um dos advogados. Parece que ele é o herói, o bonzinho, quando na verdade ele só quer grana. Mostra a casa dele, a Ferrari, os charutos.
Quando acabou o diretor levantou e surpreendeu todo mundo. Falamos um pouco com ele, falei esse negócio do advogado, ele concordou, mas me pareceu que ele acha normal o cara querer ganhar uma grana em cima. Claro que acha, ele também fez um filme em cima dos caras e quer grana.

Nota: 3/5


Garimpeiro:
Marc Barrat / Bombril

Fiquei na mesma sala, começou o filme, o cara tomou um tiro e parou. O diretor tava lá e queria se apresentar. Se apresentou, recomeçou o filme, o cara tomou o tiro denovo e continuou.
O filme mostra dois caras chegando de Paris na Guiana Francesa. Um deles nasceu lá e durante o filme descobrimos seu passado. Porra, achei bem legal. Não sabia bulhufas de lá. O amigo do cara que está voltando fica ficcionado pela busca por ouro.
Depois teria um debate, mas todo mundo foi embora! :(


Os Inquilinos:
Sergio Bianchi / HSBC

Ueba! Encontrei a Takai (muah!) e fomos assistir o novo filme do Sergio Bianchi, com roteiro da Beatriz Bracher (muah!). Com toda a vergonha do mundo elogiamos o Sergio Bianchi lá fora enquanto ele e a Takai fumavam. Entramos pro filme, denovo o Contardo Calligaris com a graça da mulher dele sentaram perto de nós! Não quero entrosar, falei pra eles.
O filme é ótimo. Mostra o dia-a-dia de uma família pobre e a reviravolta em suas vidas quando três novos inquilinos violentos se mudam para a casa ao lado. Sabe o que eu fico abismado? Não, óbvio. Então, várias coisas. Como em todos os filmes o Sergio Bianchi consegue fazer uma crítica fodida mostrando apenas o que acontece. Sem exagerar, sem fazer caricaturas, nem nada. A fotografia tá ótima. Os dois atores principais excelentes. E como os diálogos são reais, não é nada forçado, não parece que você está assistindo uma ficção.
No fim, parabenizamos a Beatriz e eu morri de vergonha.

Nota: 5/5

26 outubro, 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Hoje só dois filmes.

Mamonas para Sempre
Claudio Kahns / Reserva

Acordei tarde e saí correndo para chegar ao meio-dia na Paulista. Assisti o documentário sobre os Mamonas Assassinas. O filme é o clássico do clássico do documentário normal. Imagina um documentário normal, imaginou? Esse era mais normal.

O diretor entrevista algumas (poucas) pessoas que falam sobre o grupo. Os dois produtores, família dos integrantes, um cara que abria sua casa de show no começo do grupo e... algumas gravações dos próprios mamonas. Saí de lá feliz, não tem como não dar risada com as músicas e as gracinhas do Dinho e cia. É assustador o sucesso que fizeram em 10 meses. Mas bem que eles mereciam um filme melhor! :D

Nota: 3/5

Louise Michel: A Rebelde
Sólveig Anspach / Arteplex

MEU! TO ZICADO. Fui denovo no HSBC assistir agora um filme chamado La Vida Loca (não, não tem o Ricky Martin) e denovo deu pau na budega. Grr! Troquei o ingresso para assistir alguma outra coisa depois.

Como não dava tempo para assistir outra coisa nesse tempo já fui pro Gay Caneca. Encontrei o Bruno que trabalhava comigo e fizemos amizade com uma simpática Michele. Fui na expectativa de assistir um filme sobre a Comuna de Paris (que é uma história incrível), mas o filme se passa no exílio dos que participaram do evento.

Não tem nem um flashbackzinho. O exílio foi em uma ilha no pacífico, lá tinha: militares opressores, os aborígenes e outros exilados. Fiquei achando parecido com "O Piano", o filme é bacaninha, mas podia ser MUITO melhor. Não me convenceu a direção, nem fotografia, nem a história.

Nota: 3/5

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Utopia e Barbárie
Silvio Tendler / Espaço Unibanco

Eu sei, eu falei que só segunda, mas hoje eu dei uma escapulida e fui ao cinema. Depois de fazer um concurso ridículo para dar aula na prefeitura tive que ir ao conjunto nacional trocar meus ingressos para essa semana. Bem acompanhado pela Suzina acabamos assistindo "Utopia e Barbárie"

Quem dirige é Silvio Tendler, diretor também "Anos JK", "Jango", "Glauber, o filme" e um documentário ótimo sobre o Milton Santos. Nesse novo filme, que demorou 19 anos para ficar pronto, o recorte é mais amplo. Propõe um debate desde o final da 2ª GM até o Obama.

O filme traz, felizmente, uma visão dos principais episódios que mobilizaram a população e movimentaram a esquerda nas últimas décadas. Fala sobre Revolução Chinesa, Cubana, Allende, Ditaduras na America Latina, Movimentos de 68, Diretas, Vietnã, Queda do Muro, Collor, Iraque, Sionismo, Conflito entre Palestina e Israel e mais. Ou seja, tudo me interessa bastante e que acho que todos deviam saber um pouco para entender algumas coisas que estamos vivendo.

Me surpreendeu a edição do filme, muito bem feita e a qualidade das entrevistas. Entre os entrevistados: Susan Sontag, Eduardo Galeano, Augusto Boal, Ferreira Gullar, Dilma, Leandro Konder e o fantástico Apolônio de Carvalho que faleceu durante a produção do filme e recebe uma merecida dedicatória no final.

Depois do filme um rápido debate com o diretor, algumas perguntas bestas das pessoas e novamente um microfone sem funcionar.

Vejam o trailer:



Nota: 5/5

24 outubro, 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Hoje começou de verdade a mostra e comecei muito bem. Assisti três filmes, eis:

"Nós Que Ainda Estamos Vivas"
Daniele Cini / Unibanco Arteplex

Fui só, só, somente só, ao Frei Caneca assistir esse filme. Tenho um puta interesse em História Contemporânea e minhas escolhas de filmes a assistir na mostra foram bem baseadas nisso. O tema desse é Ditadura Argentina.

Puta que pariu! Falar que eu chorei mais que um bezerro desmamado é pouco. O filme é fantástico, se passa durante o julgamento de militares argentinos na Itália. Mostra o testemunho de várias mulheres que foram sequestradas e levadas à Escola de Mecânica da Armada (ESMA) onde sofreram torturas, perderam seus filhos, etc.

Dá uma ponta de inveja que nossos torturadores estejam soltos e até indo em livrarias que trabalhamos. Junto aos testemunhos mostram imagens da época e contam histórias ligadas às mães e avós da Praça de Maio. Sério, assistam por favor!

Durante uns 20 minutos a legenda em português sumiu. Tive que usar todo meu sentido aranha pra ouvir em Espanhol, ler a legenda em Inglês e entender. Uma senhorinha foi reclamar e os monitores arrumaram. Primeira falha da mostra, sem contar o fato de não servir nada na abertura.

Nota: 5/5

"Perseguindo Che"
Alizera Rofougaran / CCSP

Saí correndo do Frei Caneca e cheguei uns 10 minutos atrasados para ver esse filme e encontrar minha amiga Marina. Talvez eu nem devesse ter chego tamanha a fanfarronice que foi. Fujam desse filme. Gastem seu tempo vendo outras coisas sobre o cara incrível que foi Ernesto Guevara. Inclusive o do Benicio del Toro que está fantástico. Ou aquele box chamado "Memórias Cubanas" que é ótimo.

Para vocês terem noção o filme começa com Alizera, diretor, falando aonde estudou, como era a vida (burguesa) dele e que ele leu um livro sobre o Che e ficou fascinado e que o exemplo do guerrilheiro ajudou ele em muitas coisas como por exemplo: falar com mulheres e enfrentar seus medos (eis que mostra ele pulando de paraquedas). Depois fala que ele, como o Che, eram de gêmeos (o que depois vemos que não é verdade).

A chamada me parecia ótima "Iraniano segue passos de Che e muda a sua visão sobre a realidade de seu país". Não é?

Bom, mostra o fanfarrão somente na América do Sul. Uma entrevista em Cuba que não pôde ser filmada e nem cita o fracasso que foi a tentativa de guerrilha no Congo. Consegue entrar em contato com pessoas incríveis como seus amigos Granado e Calica. Chega perto de sua filha, mas não a entrevista, fala com guerrilheiros mas nada de interessante.

É um road-movie, mostra a viagem de um burguês iraniano com hobbie em Che pela América Latina.

Nota: 1/5


"Terras"
Maya Da-Rin / Espaço Unibanco

Fui ainda com a Marina ver no HSBC o "Daniel e Ana" às 17h40. Chegamos correndo e suando pro filme dar problema e o cara da mostra falar que não tinha previsão para arrumar, mas que o técnico estava a caminho. Enrolamos um pouco até que ele voltou e falou que teria que trocar o equipamento. Trocamos nossos ingressos e, consultando a bendita programação, fomos ver "Terras" no Espaço Unibanco às 19h com uma amiga que conhecemos lá.

O filme é um documentário sobre o dia-a-dia na fronteira do Brasil, Colombia e Peru. Ficamos bem felizes pois superou a nossa pequena expectativa. O filme tem 80% de imagens e sons e apenas uns 20% de entrevistas e conversas, mesmo assim, as imagens e os sons conseguem dizer muita coisa. A direção e os responsáveis da fotografia foram muito competentes com o projeto. Uma das entrevistadas, que me falaram mas eu esqueci o nome, dá um show a parte sobre a influência da cultura branca nos povos indígenas.

Depois teve um rápido debate com a graciosa diretora do filme e fomos embora. Acabamos passando no teatro coletivo e assistimos por acaso um show da Andreia Dias de graça. Eu não conhecia e gostei!

Nota: 4/5

Agora só segunda, fim-de-semana vai estar muito cheio.

23 outubro, 2009

33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Escreverei minhas opiniões aqui para eu mesmo não esquecer depois:

Dia 22 , Quarta-Feira:

Fui convidado pela Cosac Naify (não me pergunte porque, acho que erraram o email) para ir, com um acompanhante a abertura da Mostra de Cinema desse ano. Estou bem animado porque pela primeira vez não estou estudando durante esses dias e ainda por cima de férias da Livraria.

Fui com a Takai no Auditório do Ibirapuera, demos o nome e entramos bonitinho. Nunca tinha ido lá, o velhinho do Niemeyer é muito bom, né? Muito bonito o auditório. O Isay Weinfeld ficou andando por lá com um que de inveja que eu vi. Ruim que não serviram nem água, nem nada para comer. Que indelicadeza! Nunca sou convidado pra nada, quando sou não ganho nem um canapé.

Ficamos sentadinhos lá no sofá. Contardo Calligaris veio sentar ao nosso lado com a graciosa esposa mas não demos bola pra eles! O filme estava marcado para as 21h e já eram 21h40 e nada. Logo quando vimos o Sergio Bianchi perto da gente (o cara é mto bom), acompanhado da Beatriz Bracher (nem vou falar nada dela), abriram o a sala e todo mundo entrou... aliás, parecia o Brás de manhã todo mundo se apertando pra subir a rampa. Mesmo assim, lá dentro da sala, enrolaram até umas 22h20 para subir ao palco o careca do Cakoff e a Renata Almeida com o "FALA GA-RO-TO" Sergio Groissman.

Que porre que foi! Não, ninguém vai ter idéia. A Mostra tem uns vinte patrocinadores, cada um tinha um representante que subia no palco (galerinha batia palma), falava da 'empresa' (petrobras, sabesp, sesc, itamaraty...) , de cultura, da mostra, agradecia o Leon e a Renata e saía (mais palmas). Essa palhaçada se repetiu no mínimo umas 12 vezes. Pra vocês terem noção até o Ministro do Esporte, Orlando Silva, subiu lá. Fazer o que eu não sei, mas falou umas abobrinhas.

Sempre que achávamos que começaria: "Agora vamos chamar ao palco..." A ponto de até as pessoas 'chiques' que não incluía nem eu, nem a Takai, começarem a reclamar em voz alto. A graça da Renata Almeida pra ajudar contou uma das frases mais bonitinhas do filme mesmo com as pessoas pedindo para ela não contar: "Já preparei e agora vou falar, que não quiser ouvir tampa os ouvidos". Claro! Super fácil não ouvir com aquele microfone e aquela acústica. Os troxas chiques ainda bateram palmas pra ela quando ela disse isso. "Que ousada", deve ter falado alguém.

Para nossa alegria, que estávamos lá só pra isso, às 23h20 começa o filme.


À Procura de Eric:
Ken Loach / Auditório Ibirapuera

Bom, ninguém provavelmente vai ler isso e se ler é porque me conhece e já sabe que não entendo lhufas de cinema. Assisti, por indicação do Isaías, do Ken Loach o fantástico "Terra e Liberdade". Se você não assistiu, vá assistir. É um pouco mais antigo e fala da Guerra Civil Espanhola. Assisti também o curta que tem no youtube.com sobre o 11 de Setembro. (http://www.youtube.com/watch?v=7vrSq4cievs)

Então minha expectativa era bem grande! O que foi ruim.

O filme conta a história do carteiro Eric, que mora com os enteados dele em Londres e que abandonou a ex-mulher e se culpa por isso até hoje. O carteiro é grande fã do seu xará Eric Cantona, grande jogador do Manchester na década de 90. Eric (carteiro) fica conversando com o cartaz do Eric (jogador) até que uma hora o craque aparece no quarto e começa a dar dicas pra vida do protagonista.

Leram "Slam" do Nick Hornby? Mais ou menos a mesma coisa acontece com o Tony Hawk.

O filme tem momentos de emoção, momentos de comoção e vários que dá pra rir. Mas não espere um filme crítico, ácido, nem nada do gênero. Mesmo sendo uma encomenda, achei que seria algo mais, erm, mordaz? Se você for sem expectativa e quiser ver um filme de entretenimento é ótimo. Mas não vá na mostra, espere vir para o circuito comercial. Acredito que estará passando na Sessão da Tarde daqui uns 8 anos.

Nota: 3/5

23 setembro, 2009

Email para mim

Daniel,

Será que você vai receber esse e-mail?
Será que morreremos antes? Pelas minhas fatídicas contas estaremos com 63 anos.

Hoje trabalhamos na Livraria da Vila, temos 22 anos.

Estamos mandando CV para algumas escolas, prestaremos concursos para professores porque achamos que dar aula pode mudar algo o mundo. Mamãe está dormindo na cama aqui atrás, assim como vovô e vovó ao quarto ao lado. Nenhum dos três fará mais parte do nosso dia-a-dia.

Tentamos ler o Capital e desistimos temporariamente. (Mamãe levantou e foi pro quarto dela, sempre sozinha, há 22 anos). Acho que a tristeza dela passou um pouco pra mim. Será que estarei sozinho também?

Sarney anda aprontando no Senado. Lula é presidente e a popularidade tá no alto, mas anda aprontando um pouco. Será que esse email nos fará chorar? Estou plantando minha futura depressão de terceira idade?

Estamos talvez no auge da nossa idade. Jogando Handball aos sábados e acreditando que algo possa mudar nesse mundo. Mas não fazendo nada demais para que isso aconteça. (será que você terá mudado?)

O Erick tá vivo? Vou mandar esse email para ele também. Plantar a semente da depressão só em mim é muito peso.

Pessoas que eu gosto que estarão mortos: Meu tio querido, Fátima, Girão tá vivo? - Putz, a Sofia vai estar uma senhora - Lourenço, Rogério. Com nossos 22 anos ainda não convivemos muito com a morte, achamos que teremos um bom relacionamento com ela, mas vai ser engraçado você ler isso já bem experiente no assunto.

Alguma coisa mudou?
Torço que sim. Torço para não sermos tristes ao menos. Ainda gostamos de ler? Beatriz Bracher, Dino Buzatti, Machado, Neil Gaiman.

Seremos nostálgicos? Depois desse e-mail por uma semana ao menos sim. Aproveite esses anos que tem pela frente. E ria da nossa gracinha de mandar esse e-mail nos cutucando.

Um abraço apertado do,
Jovem Daniel :)

18 setembro, 2009

Caixa de Areia

10 setembro, 2009

Você desiste?

Acabei de ler 'Desonra'. É genial. Não sobra nenhuma palavra, todas estão lá por um motivo, uma escrita tão fluida com temas tão travados. Foi foda.

26 junho, 2009

passou


Incrível como esqueco os rostos das pessoas, em vários casos até a personalidade, e isso talvez signifique o quanto esses rostos também não se lembrarão dos nossos e nem das nossas brincadeiras e perguntas.

Talvez lembrem da resposta de uma certa pergunta que alguém algum dia fez. Essa resposta talvez mude depois de um tempo. Já sumimos de tantas pessoas, estamos de passagem em algumas para aparecer mais tarde nas últimas. Tudo é simples e, pra mim, muito legal.

Agora nada a ver, estou lendo "Deus: Um Delírio" (título autoexplicativo) do Richard Dawkins, convidado para a FLIP desse ano e, para todos os poucos que lerão isso, eu indico muito a leitura, dá vontade de sair lendo para as pessoas de tão claro e evidente que tudo é. Acabo o post com a frase que começa o livro:

"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"

31 maio, 2009

Fica

Vai Mario. Fica todo o teu encantamento.

Eu ficaria triste, mas algo me diz ele nos quer rindo. Sorrio e vejo o mundo pelas tuas letras.


26 maio, 2009

Reflexões de um livreiro-pensante



Sempre ouvi relatos de pessoas que sentem um incômodo ao preencherem o campo 'emprego' em qualquer formulário. Se perguntam se atuar, escrever ou fotografar, normalmente sem salário fixo, se encaixa na vaguidão desse termo e, embora no âmago sintam a pontada de orgulho por se considerarem artistas, respondem ser professores, jornalistas, estudantes. Invejei essas pessoas por tempos pois minhas respostas sempre foram precisas: 'Estudante', depois 'Aux. de Escritório', depois, na vergonha de colocar 'Estagiário', voltava a ser 'Estudante'. De dois anos para cá o incômodo veio ao meu encontro, acompanhado até com a pontadinha de orgulho.

Escreveria que o acaso me tornou livreiro, eu ajudei, fui gostando e fiquei, mais passivo do que ativo. Ao começar a trabalhar em livraria desenvolvi, graças aos colegas de trabalho, um gosto por leituras que hoje, ingenuamente, me orgulho. Em uma reunião ouvimos que somos todos livroeiros, mas livreiro é quem? Quem entende de livros? Quem é dono dos livros para vender? Quem efetivamente vende os livros? Tudo isso junto? O fato é que na hora de responder a lacuna, hesito, e coloco-me como 'Vendedor', que é o que de fato faço. Me coloco igual ao vendedor de lâmpadas, de roupas, de doces e no fim como todos ofícios exigem algum entendimento sobre a mercadoria, cá estou eu aprendendo sobre livros.

Mesmo após a resposta oficial continuei considerando-me superior ao vendedor de cuecas, por motivos que me eram óbvios, mas um pequeno pensamento mudaria minha opinião. Vendo livros para pessoas com muito, mas muito, mais dinheiro do que eu e em conversas na loja começamos a ver como todas pessoas da região tem filhos e, consequentemente, babás. Os filhos parecem mais algo a ostentar do que qualquer outra coisa, chegando ao ponto de vermos mães esquecer os nomes dos filhos na loja:

- Traz o livro aqui... erm... Ra.. Ricardo!

A babá poderia ter soprado, pois todos os dias, está no setor infantil com a criança e a mãe aparece uma vez por mês, aproveita para tratar mal algum funcionário. O setor infantil fica mais fácil de ser identificado pelas negras de uniforme branco/bebês loiros com olhos azuis, do que pelos livros em si. O fato rapidamente concluído foi que os ricos pagam os pobres para cuidar de seus filhos, logo viria a segunda conclusão que me acordou, os ricos nos pagam para ler para eles. Lemos bastante, indicamos de acordo com o que o querem, contamos a história e pronto. O cliente está agora com 'As Brasas', 'Memórias do Subsolo', 'Fim de Partida' e o 'Deserto dos Tártaros' na estante e quando necessário saberá contar o que lhe falamos para impressionar:

Dois clientes nossos se encontram para um jantar. O visitante, ao ver os livros do amigo na estante, diz:
- Esse livro é incrível.
- Nossa, é espetacular. Um tratado sobre a solidão. Tem inclusive uma adaptação para o cinema nos anos 80 que é fantástica.

Nenhum leu, mas o papel do livro ali está bem feito, se bobear até me elogiam para o chefe, ganho um aumentinho e fico sendo um livreiro mais feliz.

17 fevereiro, 2009

o que há


"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço..."


Alvaro de Campos


Não tenho certeza se me sinto bem quando uma poesia exprime o que sinto. Sinto o que muitos sentem. Meu cansaço talvez não seja tão romântico, acredito que seja real. Cansei de ver o que vejo, sentir isso que... será que sinto?

Tudo o que acho tão superficial no eu ou outros conseguem ter tão profundo. Não os invejo. Só cansei...

16 fevereiro, 2009

A barata

"Tendo voltado tarde para casa, esmaguei uma barata que, no corredor, me escapava entre os pés (ficou lá, preta, no ladrilho) depois entrei no quarto. Ela dormia. Deitei-me ao seu lado, apaguei a luz, da janela aberta via um pedaço de parede e o céu. Fazia calor, não conseguia dormir, velhas histórias renasciam dentro de mim, dúvidas também, uma genérica desconfiança no amanhã. Ela soltou um pequeno lamento. "Que houve?", perguntei. Ela abriu um olho, grande, sem me ver e murmurou: "Tenho medo." "Medo de quê?", perguntei. "Tenho medo de morrer." "Medo de morrer? Por quê?" Respondeu: "Tive um sonho..." Aproximou-se um pouco. "Mas que é que você sonhou?" "Sonhei que estava no campo, estava sentada na margem de um rio e ouvi gritos ao longe... E eu devia morrer." "Na beira de um rio?" "Sim.", respondeu "Ouvia as rãs... faziam crá, crá." "E que horas eram?" "Era noite e ouvi gritar." "Bem, durma, agora são quase duas horas." "Duas horas?", mas não conseguia compreender, já tornara a pegar no sono.

Apaguei a luz e ouvi alguém remexendo no pátio. Depois, subiu a voz de um cão, aguda e longa; parecia lamentar-se. Subiu, passando diante da janela, perdeu-se na noite quente. Depois abriu-se uma persiana (ou se fechou?). Longe, muito longe, mas talvez eu me enganasse, uma criança se pôs a chorar. Depois, novamente o ulular do cão, longo como antes. Eu não conseguia dormir.Vozes de homens vieram de alguma outra janela. Eram baixas, como murmuradas entre o sono. De uma sacada abaixo, ouvi um cip, cip, zitevitt, e algumas batidas de asas. "Flório!", ouviu-se chamar de repente, devia ser duas ou três casas mais adiante. "Flório!", parecia uma mulher, mulher angustiada, que tivesse perdido o filho.

Mas por que o canarinho do andar de baixo acordara? Que havia? Com um rangido lamentoso, como se fosse empurrada devagarinho por alguém que não queria fazer-se ouvir, uma porta se abriu em algum lugar da casa. Quanta gente acordada a essa hora, pensei. Estranho, a essa hora.

"Tenho medo, tenho medo", queixou-se ela procurando-me com o braço. "Oh, Maria", perguntei, "Que tem você?" Respondeu com voz tênue: "Tenho medo de morrer." "Você sonhou de novo?" Fez que sim, devagarinho, com a cabeça. "De novo aqueles gritos?" Fez sinal que sim. "E você ia morrer?" Sim, sim, indicava, procurando olhar-me, com as pálpebras grudadas pelo sono.

Há alguma coisa, pensei: ela sonha, o cão uiva, o canarinho acordou, as pessoas se levantam e falam, ela sonha com a morte, como se todos tivessem sentido uma coisa, uma presença. Oh, o sono não vinha e as estrelas passavam. Ouvi distintamente no pátio o ruído de um fósforo aceso. Por que alguém se punha a fumar às três horas da manhã? Então senti sede, levantei-me e saí do quarto para beber água. A triste lâmpada do corredor estava acesa, percebi vagamente a mancha preta no ladrilho e parei, assustado. Olhei: a mancha preta se movia.Ou melhor, movia-se um pedacinho (ela sonha que vai morrer, o cão uiva, o canarinho acorda, pessoas se levantaram, uma mãe chama o filho, as portas rangem, alguém fuma, e há talvez um choro de criança).


Vi, no chão, o bichinho preto que movia uma patinha. Era a do meio, à direita. O resto estava imóvel, uma mancha de tinta que caíra da morte. Mas a perninha remava fracamente como se quisesse subir de novo alguma coisa, o rio das trevas, talvez. Teria ainda esperança?

Durante duas horas e meia, dentro da noite — senti um calafrio —, o imundo inseto grudado no ladrilho pelas suas próprias mucilagens viscerais, durante duas horas e meia continuara a morrer e ainda não acabara. Maravilhosamente continuava a morrer, transmitindo, com a última patinha, a sua mensagem. Mas quem a podia colher às três da manhã, na escuridão do corredor de uma pensão desconhecida? Duas horas e meia, pensei, continuamente para cima e para baixo, a última porção de vida na perninha sobrevivente, para invocar justiça. O pranto de uma criança — lera um dia — basta para envenenar o mundo. Em seu coração, Deus onipotente quisera que certas coisas não acontecessem, mas não pôde impedi-lo porque por ele mesmo foi decidido. Mas uma sombra jaz ainda sobre nós. Esmaguei o inseto com o chinelo e, esfregando no chão, esmigalhei-o num longo rasto cinza.

Então, finalmente, o cão calou-se, ela, no sono, se acalmou e parecia quase sorrir, as vozes se apagaram, calou a mãe, não se percebeu mais nenhum sintoma de inquietude do canarinho, a noite recomeçava a passar sobre a casa cansada, a morte fora inchar sua inquietude em outras partes do mundo."

Dino Buzzati