31 dezembro, 2009

lentilha

Alguém já ouviu a palavra 'prosperidade' sem ser no ano novo?

31/12, 23h


Amanhã não é outro dia, mas outro ano,
Nada pode ficar igual (mas ficará)
Não me irritam mais as resoluções dos humanos,
Só fico triste de não comemorarmos assim
A troca dos dias, do mês e das semanas.
Quem sabe até a troca das horas.
Na próxima hora vou querer mudar tudo.

16 dezembro, 2009

dogville

o mais foda do filme é o sentimento de alívio e felicidade que dá ver todo mundo morrendo.

05 dezembro, 2009

A Peste

Camus, o cara era bom. O livro é todo de metáforas entre a situação descrita com a peste e a ocupação nazista na França. O livro acaba assim:

"Na verdade, ao ouvir os gritos de alegria que vinham da cidade, Rieux lembrava-se de que esta alegria estava sempre ameaçada. Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. E sabia, também, que viria talvez o dia em que, para a desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."


E aí?

04 dezembro, 2009

bicicleta


A única lembrança razoável que tenho do meu pai foi que ele me ensinou a andar de bicicleta. Lembro de ter uma bicicleta que ele me deu, depois uma laranja que meu vô me deu, depois uma azul. Não sei qual foi o fim de nenhuma delas.

Bicicleta sempre foi meio neutro, entre os patins que eu gostava e o skate que vários outros gostavam. Andávamos na rua toda criançada, lembro quando era emocionante dar uma volta no quarteirão, bacaníssimo andar pela calçada, brincar de siga o mestre... e empinar? Uou! Uma vez um amigo estava empinando e a roda da frente saiu da bicicleta, poft! Outra vez eu joguei um pedaço de vassoura na roda de outro amigo e ele caiu. Depois apanhei dele como nunca mais apanhei na vida.

Comprei hoje, R$250 reais no Tito, lojinha que durante minha infância inteira eu fui arrumar minhas bicicletas, ele não lembrava de mim obviamente, mas lembrava do meu avô. Sempre gostei da idéia de bicicletas como meio de transporte, mas nunca achei que realmente desse certo. Resolvi ir hoje ao trampo de bike!

Moro no carrão e trabalho no Jardins, eis o mapinha:



Saí de casa animado, e antes de 200m caiu a corrente, beleza, arrumei. Fui pra ciclovia da Radial, caiu denovo e arrumei, percebi que era uma marcha x que fazia a corrente cair e não coloquei mais nela. Qual não foi a minha surpresa quando vi que a ciclovia acabava no Tatuapé, ou seja, a partezinha vermelha no mapa. Depois adrenalina pura.

Quando eu andava de patins adorava pegar rabeira, tesourar carros e causar pra caralho. Mas pelo contrário fiquei me cagando de medo dos carros e principalmente caminhões e ônibus, os caras são totalmente sem noção com bicicletas, tomei centenas de buzinadas mesmo indo pelo cantinho e tal. Me cansei algumas vezes, parei pra respirar mas não andei nem 1m sem ser pedalando.

Depois, diferente do que mostra no mapa, eu subi a Augusta, onde o meu pedal quebrou e tive que parar na Haddock pra comprar, por R$20, outro. A travessia durou 1h30 e cheguei na livraria todo ridículo orgulhoso, as pessoas comentavam 'não acredito' e eu, bem idiota, ficava feliz.

A volta foi mais rápida e mais tranquila. A Radial não tava tão cheia, descer a Consolação é ótimo e choveu água de piscina no calor em mim. Mesmo com o óculos todo molhado ignorei e fiquei feliz com a chuva. Ah, esqueci de falar dos buracos. Várias vezes uns buracos surreais brotavam e eu me cagava mais ainda, já pensou perde o equilíbrio cai no chão carro passa e já elvis. Não me cansei e adorei mesmo, mas não sei se quero ir denovo.

Quero ciclovias. Chegando na minha rua, andei pela calçada e guardei a bicicleta como eu fazia há 15 anos atrás.

03 dezembro, 2009

amigo

Dia 2/12, aniversário do meu melhor amigo.

Melhor amigo é uma coisa tão antiquada e tão existente que me deixa encucado. Moramos de frente um para o outro desde antes de nos darmos por seres vivos, crescemos aprendendo coisas juntos e discordando em diversas coisas. Jogamos grande parte dos jogos de rua, de tabuleiro, de video-game juntos, pião, pipa, taco, jogo de botão, álbuns de figurinhas, tazos... Almoçávamos um na casa do outro, gostamos um da família do outro até hoje.

Começamos a nos separar quando começou o colégio, fizemos o fund 1 em colégios diferentes, ele no público João Borges, eu no Santo Antônio de mauricinho. Na 4ª série ele foi pro Santo Antônio e desde então nunca caímos na mesma sala. Tivemos amigos bem diferentes e cada ano nos acho mais diferentes um do outro.

Ele fez publicidade, tá trampando numa empresa bacana, eu fiz história e quero dar aula. Politicamente nem vou comentar. Fora as festas de colégio NUNCA saímos de balada juntos. Nunca o convenci de ir ao teatro comigo e ele não gosta dos livros que me aprazem. Nunca fomos amigos um da namorada do outro. Começamos a beber juntos, mas há anos e anos que não continuamos.

Nesses últimos oito anos, desde que saí do colégio e ele continuou. Desde que começamos a estudar 'de verdade', ficar com meninas de verdade e, principalmente, depois de começarmos a trabalhar quase nunca nos vemos. Não seria exagero dizer que, mesmo ainda morando um de frente pro outro, provavelmente tenhamos passado dias sem se ver, semanas, talvez até meses.

Mas talvez o bom da amizade, talvez, seja quando você está há muito tempo sem se ver e quando se encontram parece que brincaram ontem de esconde-esconde na rua.

02 dezembro, 2009

galeano

"Utopia [...] ella está en el horizonte. Me acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos. Camino diez pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca la alcanzaré. Para que sirve la utopia? Para eso sirve: para caminar"

Eduardo Galeano

01 dezembro, 2009

partidos

Democracia, já tive que escrever um texto de 30 linhas sobre esse tema np último semestre da faculdade, mas cada dia mais eu mesmo me questiono sobre ele.

Me sinto besta escrevendo aqui, mas relaxo quando lembro que quase ninguém lê e que no fundo, isso aqui é para eu me lembrar dos meus questionamentos no futuro. Me sinto besta porque existem tantas coisas bacanas escritas sobre esses debates, textos que eu podia estar lendo ao invés de propagar aqui meu ínfimo conhecimento e simples dúvidas.

Meu principal motivo de acreditar um pouco nessa democracia fingida que vivemos é o caso do Allende no Chile que, em 1970, tornou-se presidente democraticamente e começou a fazer mudanças sociais, mexer nas estruturas, até os EUA pirarem na batatinha e junto com os reacionários do país bombardearem o palácio e instaurarem uma das piores ditaduras já vistas.

Nunca as pessoas que realmente mandam, os donos do Capital com letra maiúscula, os que mandam por detrás dos que aparecem deixarão que alguma mudança seja feita. O PT mostrou-se uma piada de mal gosto. Esses dias no bar uma amiguinha falou que com a Marta era incrível e que o CEU no meio da periferia era lindo e a minha outra amiguinha respondeu (muito bem) que aquilo era puro Pão e Circo. A idéia nunca foi acabar com a 'periferia', acabar com as comunidades pobres, fazer com que elas tenham dignidade de viver, mas sim conforma-la. Dar um teatrinho, uma piscininha de modo que eles não reclamem de viverem explorados para que outros usufruam da riqueza que criam.

Outro debate que tem surgido diversas vezes nas últimas semanas. Anular voto, já tive diversas opiniões que seguem mudando, vale a pena votar no menos pior? Dar o meu voto não é um ato de corroboração ao sistema do qual ele é a teórica base? Mas anular muda algo? Alguém no mundo vê os menos de 10% de votos nulos como um protesto?

Enquanto isso vou seguindo nesse ostracismo de gerar a riqueza pro outro e não ajudar em nada a mudança que eu gostaria de ver.