24 outubro, 2010

Patrulha Ideológica

te alerta poeta que a p/i te espreita

desestruturou o discurso e embaralhou as letras

te aleart paeto que o pc te recrimina

barroquizou a linguagem e descurou da doutrina

te alaert peota que o sni te investiga

parodiou o sistema e ironizou a política

te alaret poate que o women's lib te corta o genitálio

glosou o objeto sexual e teve orgasmo solitário

te alerat peato que a puc te escanteia

foi tema de mestrado e nao quis compor a mesa

te alreta petoa que a cb não te reedita

gastou muito papel e pouco sangue na tinta

te alrate petao que a abl te indexa

fez enxertos de inglês e sujou a água léxica

te arealt patoe que a cnbb te exorciza

macarronizou o latim e não aprendeu a nova missa

te alatre potae que o esquadrão te desova

traficou palavrina e não destruiu a prova

te atrela ptoea que o doicodi te herzoga

suspenso sem suspeição e enforcado sem corda

i must gone and live or stay and die



affonso avila

19 julho, 2010

Escritos Revolucionários


"[...] Somos todos, sem exceção, obrigados a viver, mais ou menos, em contradição com nossas idéias; mas somos socialistas e anarquistas precisamente porque, ao sofrermos essa contradição, procuramos, tanto quanto possível, torná-la menor. No dia em que nos adaptássemos ao meio, não mais teríamos, é óbvio, vontade de transformá-lo, e nos tornaríamos simples burgueses; burgueses sem dinheiro talvez, mas não menos burgueses nos atos e intenções."

Malatesta

15 julho, 2010

dança até o arvoredo

Em 1935, Noel Rosa e Wilson Batista chegaram ao ápice da rivalidade que demonstravam em seus sambas.

Wilson Batista havia composto um elogio ao malandro na música "Lenço no Pescoço":

Meu chapéu do lado / Tamanco arrastando / Lenço no pescoço / Navalha no bolso / Eu passo gingando / Provoco e desafio / Eu tenho orgulho / Em ser tão vadio. / Sei que eles falam / Deste meu proceder / Eu vejo quem trabalha / Andar no miserê / Eu sou vadio / Porque tive inclinação / Eu me lembro, era criança / Tirava samba-canção / Comigo não / Eu quero ver quem tem razão. / E eles tocam / E você canta / E eu não dou.

Noel responde com "Rapaz Folgado", que, caso procurarem tem com a linda Roberta Sá cantando:

Deixa de arrastar o teu tamanco / Pois tamanco nunca foi sandália / E tira do pescoço o lenço branco / Compra sapato e gravata / Joga fora esta navalha que te atrapalha. / Com chapéu do lado deste rata / Da polícia quero que escapes / Fazendo um samba-canção / Já te dei papel e lápis / Arranja um amor e um violão. / Malandro é palavra derrotista / Que só serve pra tirar / Todo o valor do sambista / Proponho ao povo civilizado / Não te chamar de malandro / E sim de rapaz folgado.


Wilson replica com "Mocinho da Vila":

Você que é mocinho da Vila / Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais / Se não quiser perder o nome / Cuide do seu microfone e deixe / Quem é malandro em paz / Injusto é seu comentário / Falar de malandro quem é otário / Mas malandro não se faz / Eu de lenço no pescoço desacato e também tenho o meu cartaz.

A resposta de Noel é um dos meus sambas preferidos "Feitiço da Vila", regravada por 26 em cada 26 cantores de MPB, incluindo João Gilberto, Ney, Martinho da Vila:

Quem nasce lá na Vila / Nem sequer vacila /Ao abraçar o samba / Que faz dançar os galhos, / Do arvoredo e faz a lua, / Nascer mais cedo. / Lá, em Vila Isabel, / Quem é bacharel / Não tem medo de bamba. / São Paulo dá café, / Minas dá leite, / E a Vila Isabel dá samba. / A vila tem um feitiço sem farofa / Sem vela e sem vintém / Que nos faz bem / Tendo nome de princesa / Transformou o samba / Num feitiço decente / Que prende a gente / O sol da Vila é triste / Samba não assiste / Porque a gente implora: / "Sol, pelo amor de Deus, / não vem agora / que as morenas / vão logo embora / Eu sei tudo o que faço / sei por onde passo / paixão não me aniquila / Mas, tenho que dizer, / modéstia à parte, / meus senhores, / Eu sou da Vila!

Wilson, não contente com o ponto do Noel, treplica com o ótimo samba "Conversa Fiada":

É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço / Eu fui ver para crer e não vi nada disso / A Vila é tranqüila porém eu vos digo: cuidado! / Antes de irem dormir dêm duas voltas no cadeado / Eu fui à Vila ver o arvoredo se mexer e conhecer o berço dos folgados / A lua essa noite demorou tanto / Assassinaram o samba / Veio daí o meu pranto.

Noel improvisou esses dois versos no final "Feitiço da Vila" como resposta, se procurarem tem um vídeo que o Caetano canta esses versos no final:

Quem nasce pra sambar, / chora pra mamar em ritmo de samba / Eu fui sair de casa olhando a lua / E até hoje ainda estou na rua. / A zona mais tranquila / É a nossa Vila, o berço dos folgados / Lá não tem cadeado no portão / Porque na Vila não tem ladrão.

E ainda fez o seu melhor samba na minha opinião, "Palpite Infeliz", várias versões no YT também, mas gosto da do Rui de Oliveira:

Quem é você que não sabe o que diz? / Meu Deus do Céu, que palpite infeliz! / Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, / Oswaldo Cruz e Matriz / Que sempre souberam muito bem / Que a Vila Não quer abafar ninguém, / Só quer mostrar que faz samba também. / Fazer poema lá na Vila é um brinquedo / Ao som do samba dança até o arvoredo / Eu já chamei você pra ver / Você não viu porque não quis / Quem é você que não sabe o que diz? / A Vila é uma cidade independente / Que tira samba mas não quer tirar patente / Pra que ligar a quem não sabe / Aonde tem o seu nariz? / Quem é você que não sabe o que diz?

Wilson perde a linha e faz um samba chamado "Frankstein da Vila" que Noel não responde (alguns dizem que respondeu, inclusive o vídeo aí embaixo, mas é mentira):

"Boa impressão nunca se tem / Quando se encontra um certo alguém / Que até parece um Frankenstein / Mas como diz o rifão: por uma cara feia perde-se um bom coração / Entre os feios és o primeiro da fila / Todos reconhecem lá na Vila / Essa indireta é contigo / E depois não vá dizer / Que eu não sei o que digo / Sou teu amigo"

ainda insiste e faz "Terra de Cego", mas não grava. A música se espalha por outro grupo da época:

Perde a mania de bamba / Todos sabem qual é / O teu diploma no samba. / És o abafa da Vila, eu bem sei, / Mas na terra de cego / Quem tem um olho é rei. / Pra não terminar a discussão / Não deves apelar / Para um barulho na mão. / Em versos podes bem desabafar / Pois não fica bonito / Um bacharel brigar.

Para terminar o duelo, Noel faz na mesma melodia "Deixa de ser Convencida".

Deixa de ser convencida / Todos sabem qual é / Teu velho modo de vida / És uma perfeita artista, eu sei bem, / Também fui do trapézio, / Até salto mortal / No arame eu já dei. / E no picadeiro desta vida / Serei o domador, / Serás a fera abatida. / Conheço muito bem acrobacia / Por isso não faço fé / Em amor, em amor de parceria / (Muita medalha eu ganhei!)


Incrível, né? Fiquei muito animado quando descobri isso. Depois os dois até gravaram juntos. É bem cliché, mas quem ganhou no duelo foi a gente. :-)





04 junho, 2010

Henfil em Copa

Natal, 7 de junho de 1978.

Mãe,

Aí, na hora que a coisa tava indo, tava indo… chega a Copa do Mundo e leva tudo pra lá. É sempre assim: não conseguimos fazer duas coisas ao mesmo tempo. Não sabemos assobiar e fazer xixi ao mesmo tempo, não conseguimos chutar bola e fazer democracia ao mesmo tempo.

Mas sabe o que me dá mais raiva? Vez por outra vêm me perguntar se eu vou torcer pelo Brasil! Só porque a gente tá na oposição, eles acham que tamos contra a seleção também? Sim, porque entre os méritos do último governo sempre acrescentavam: o governo do Tri! Só pra gente ficar com ódio do Tri. E a gente era besta, a gente era bobão, não sabia das coisas e acabou achando que o Tri fosse gol do governo. Gol deles uma pinóia!

Dessa vez ninguém vai me fazer ficar contra a seleção pensando que eu tô contra o Ato Institucional número 5, não. A seleção é do povo, assim como a greve é do trabalhador!

A bênção do seu filho,

Henfil


31 maio, 2010

Sobre Heróis e Tumbas

Eis um trecho que, quando eu esquecer, eu quero lembrar.

"Mas nem sempre os homens sentados e pensativos são velhos ou aposentados.


Às vezes são homens relativamente moços, indivíduos de trinta ou quarenta anos. E, coisa curiosa e digna de reflexão (pensava Bruno), parecem tão mais patéticos e desvalidos quanto mais jovens são. Pois o que pode haver de mais pavoroso do que um rapaz sentado e pensativo num banco de praça, angustiado por seus pensamentos, calado e alheio ao mundo a seu redor? Às vezes, o homem ou rapaz é um marinheiro; outras vezes, talvez seja um emigrante que gostaria de regressar à pátria e não pode; volta e meia são criaturas incapazes para a vida, ou que deixaram a casa para sempre ou meditam sobre sua solidão e seu futuro. Ou pode ser um rapazinho como o próprio Martín, que começa a ver com horror que o absoluto não existe.


Ou também pode ser um homem que perdeu o filho e que, de volta do cemitério, se encontra sozinho e sente que agora sua existência carece de sentido, refletindo que, enquanto isso, há homens por aí que riem ou são felizes (mesmo sendo apenas momentaneamente felizes), meninos que brincam no parque, ali (está vendo-os), enquanto seu próprio filho está debaixo da terra, num caixão pequeno adequado ao tamanhinho de seu corpo que, quem sabe, finalmente deixará de lutar contra um inimigo atroz e desproporcional. E esse homem sentado e pensativo medita de novo, ou pela primeira vez, sobre o sentido geral do mundo, pois não consegue entender por que seu filho precisou morrer assim, por que teve de pagar por um pecado de outros, com sofrimentos imensos, com seu coraçãozinho torturado pela asfixia ou paralisia, lutando desesperadamente, sem saber por quê, contra as sombras negras que começam a se abater sobre ele.


E este, sim, é um homem desamparado. E, coisa curiosa, pode não ser pobre, é até possível que seja rico, e até poderia ser o Grande Banqueiro que planejava a formidável Operação com divisas fortes, evocada antes com ironia e desdém. Desdém e ironia (agora era fácil entender) que, como sempre, eram excessivos e definitivamente injustos. Não há homem que, em última instância, mereça o desdém e a ironia, já que, cedo ou tarde, com divisas fortes ou não, ele é atingido pelas desgraças, pelas mortes dos filhos, ou irmãos, por sua própria velhice e solidão diante da morte. Terminando, enfim, mais inválido que ninguém, pela mesma razão que é mais indefeso o homem de guerra flagrado sem sua cota de malhas do que o insignificante homem de paz que, por nunca ter tido esta proteção, tampouco sente sua falta."

Ernesto Sabato

21 março, 2010

Palestina Livre




Li e gostei muito de um livro do Edward Said chamado "Cultura e Resistência". É uma série de entrevistas do intelectual sobre o conflito Israel x Palestina. Fiquei com bastante raiva e quis ir jogar pedras nos tanques israelenses, mas por hora o que faço é me irritar, comprar uma camiseta e postar aqui. (Que revolucionário eu)

Comprei o livro quando o meu amigo Rogério estava folheando e viu um poema e me mostrou. Segue o poema com uma pequena explicação.

Carteira de Identidade

Toma nota!
Sou árabe
Número da identidade: 50 mil
Número de filhos: oito
e o nono...já chega depois do verão
E vais te irritar por isso ?

Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira
Com meus companheiros de dor
Pra meus oito filhos
O pedaço de pão
as roupas e os livros
arranco da rocha...
Não mendigo esmolas à tua porta,
nem me rebaixo
no portão do teu palácio
E vais te irritar por isso ?

Toma nota!
Sou árabe
Sou nome sem sobrenome
Paciência sem fim
Num país onde tudo o que é
Ferve na urgência da fúria
Minhas raízes...
Antecedem
o nascimento do tempo
o princípio das eras
o cipreste e a oliveira
a primeira das ervas

Meu pai...
De família na terra
Sem nobreza entre os seus
Meu avô
De presença no arado
Nem distinto nem bento
Sem nome nem renome
Sem papel nem brasão
Minha casa, só choça no campo
de troncos e tábuas
E ela te agrada?
Sou nome sem sobrenome!

Toma nota!
Sou árabe
Cabelos negros
Olhos castanhos
E o que mais?...
A cabeça coberta com Keffyya e cordão
Dura como pedra
Rija no toque
a palma da mão...
E o melhor pra comer?
Azeite e zaatar

O endereço?
Uma aldeia isolada...esquecida
De ruas sem nome
E homem...
No campo e na pedra...
E vais te irritar por isso?

Toma nota!
Sou árabe
Arrancaste as vinhas de meu avô
a terra que eu arava
Eu, os filhos, todos
Nada poupaste...
Pra nós, pros netos
Só pedras, pois não
E o governo, o teu, já fala em tomá-las
Pois então!
Toma nota!
No alto da primeira página
Não odeio ninguém
Não agrido ninguém
Ao sentir fome, porém,
Como a carne de quem me viola
Atenção...cuidado...
Com minha fome...com minha fúria!

É um poema que na verdade se origina de sua experiência pessoal de ter que se registrar num gabinete israelense. Até 1966, os palestinos em Israel estavam sob a norma militar israelense, então tinham que se reportar constantemente, se registrar. Ele, num jeito desafiador, diz ao homem, "Anote que sou árabe". Isso, involuntariamente, se tornou a primeira linha do poema.

Augures

Eis que não resisti e vou escrever sobre a fantástica aventura de ser padrinho de casamento. Espero sinceramente que as pessoas envolvidas nunca na vida leiam esse post, mas se lerem saibam que eu continuo gostando de vocês e que os comentários abaixo são bem exagerados.

Minha querida e única prima me convidou há meses e meses atrás para ser um dos padrinhos do casamento dela com o namorado. Namorado o qual eu só conheci depois do convite, mas mesmo assim ele pareceu bacana. Óbvio que eu aceitei todo fanfarrão e lisonjeado (palavra que eu nunca escrevi e nem sabia que era com 'j'). Po, muito legal ser lembrado para essas coisas, né?

Eis que começam os gastos (que, caso seja alguém da família lendo valeram MUITO a pena) R$300 em um microondas. Na verdade nem tem a graça de você dar o presente, eu falei que queria dar isso, ela foi, escolheu, comprou e já deve até estar fazendo pipoca nele e eu nem o vi. Só nos cabe depositar o dinheiro. E R$180 em um terno (que é lindo!) mas que tive que ir em uma folga lá na puta que pariu para experimentar e depois ir para pegar e depois ir para devolver. Em breve fotos. Ou não.

Imagino como deve ter sido a preparação do evento, um dia, 15 min na Igreja e algumas horas em um salão de festa tornam-se o momento mais importante do universo. Ai se alguma coisa desse errado.

Tirei uma das minhas duas folgas de sábado por ano para ir no evento. Folguei sexta, sábado e domingo. Sexta-Feira, meu tio, pai da noiva, passou aqui para irmos pegar o terno. Cara sensatíssimo disse que o evento do dia seguinte era o de menos mas que esperava que houvesse respeito durante os anos que viriam depois.

Fomos lá, ficamos bem bonitos nos ternos, fomos deixar whiskey no salão, almoçamos juntos, algo infelizmente raríssimo porque gosto bastante dele, e fui até cortar o cabelo e fazer a barba. Desencravei uma unha também, mas não foi por causa do casamento.

Acordo no sábado, fui jogar handball como todos os outros sábados, como não teria que trabalhar resolvi nadar e depois fui com um amigo na Galeria do Rock. Por volta das 17h começaram as ligações desesperadas da minha vó e minha mãe querendo saber onde eu estava, se chegaria na hora pois embora o casamento fosse as 20h eu, como padrinho, tinha que chegar às 19. Tomei banho correndo, coloquei 'meu' terno e peguei carona com o Erick. Ele me deixou lá, passei no banco para tirar dinheiro para a gravata (quem inventou essa palhaçada?), comprei um trident e fui para a Igreja.

Não tinha ninguém.

Digo, ninguém que deveria estar lá, acompanhei o casamento anterior inteiro fazendo questão de não levantar quando o padre pedia. Nossa, que mau que eu sou. Tava cansado, né?

Depois de uma meia hora sentado naquele lugar estranho chamado Igreja chegou a mãe e a tia da noiva. Tia que merece um parágrafo.

A Tia Franca acredito que seja irmã da mãe da noiva. Ela existe desde que eu conheço a família e a via bastante quando meu tio e minha tia ainda eram casados. Minha mãe falou que ela ficou muito feliz em entrar na igreja comigo (caso seja a Tia Franca que esteja lendo eu também fiquei). Ela estava mais nervosa que a Carina eu acho. Ficava fazendo aqueles comentários:

'É agora?'
'Que lado a gente vai ficar hein?'
'Ela já chegou?'

E MUITOS mais. Infelizmente ela continuou fazendo os comentários enquanto estávamos no altar e eu fiquei com muita vergonha. Minha mãe e minha vó são evangélicas e não entram na igreja. Meu vô ficou na primeira fileira e, curiosamente, também não levantava quando o padre pedia (mandava).

Entramos bonitinhos, a Tia Franca do lado DIREITO. Nunca vi nenhum dos outros padrinhos e madrinhas exceto um casal de primos. O que é estranho, pois todos os caras tem um terno bonito igual o seu e devem ser muito próximo deles para serem chamados. Fica um ar cúmplice envergonhado. Todo mundo na mesma e sem se conhecer.

Entramos devagarzinho, sorrindo para as pessoas que estavam olhando. As quais muitas me conheciam e eu não lembrava delas, inevitável em encontros de família. No altar ficamos do lado esquerdo (viu, tia?). E começou a pior parte.

É tudo muito rápido na igreja, né? É sim, mas milagrosamente parece muito mais.
Ficamos lá, estava muito calor, muito calor, muito mesmo. O terno era bem grosso, bem grosso mesmo e eu suei. Suei muito! Estava com papel no bolso e me enxuguei no mínimo umas 30 vezes no altar. Espero que não apareça nas fotos e nos vídeos. Parecia um porco albino no Haiti.

Aí começa a Marcha Nupcial. Que parece muito uma marcha de guerra, Senhor dos Anéis ou Star Wars, até que eu gostei dela. Gosto quando fica o som do tambor. E sempre que o baterista faz TUPCHHH todo mundo acha que a noiva vai entrar. Chegava a ser irônico. TUPCHH, todas as cabeças na porta da igreja e nada. Alguns minutos depois eis que minha prima chegou, para que gosta de noivas ela era uma noiva muito bonita, todas as mulheres choraram como de praxe.

Sei lá quantos casamentos tem por dia, mas o padre falou exatamente tudo que tinha falado no outro. Até as entonações, fiquei morrendo de medo de ele errar o nome. Confundir com o anterior, sei lá.

Eu nunca fui em igreja católica. Quando eu era criança eu ia na Congregação com minha mãe e depois que descobri o segredo da Vida, do Universo e Tudo o Mais eu parei de comparecer a esses recintos. Então eu não sei aquelas combinações de frases e gestos que as pessoas fazem.

Felizmente desse vez como eu estava de pé o tempo todo eu não precisei ficar sentando e levantando, algo que me irrita bastante em casamentos. Mas as frases combinadas conseguem me pegar de surpresa sempre.

"Amor com jeito de virada
Primeiro a patroa depois a empregada"

Essas eu sei, mas tipo:

"Que jesus esteja convosco"
"Ele estará blablabla entre nós"

Imaginem eu, lá em cima prestando atenção nas frases do padre, achando bonitinho, quando ele fala X todos os padrinhos e presentes na igreja respondem em unísono uma frase eu quase tinha uma síncope. Tinha um que todo mundo fez um sinal da cruz na testa, outro no peito. Eu estava totalmente perdido.

Pior que o infeliz que estava filmando gostou de mim e ficava me filmando sempre nessas horas. Eu mexia minha boca imitando os outros, será que vão perceber?

E demora, demora. E dá beijo. E molha a aliança. Falei para minha vó aproveitar que foi a única vez que subi em altar. Jesusmariajosé. Durante o ritual começou umas trovoadas e todo mundo se olhando e possivelmente pensando que é um sinal de deus ou um mau augúrio. Era apenas o sinal que todos os ternos estariam bem molhados em alguns minutos.

Aí nós tivemos que sair um casal de cada vez, um de cada lado por vez, tipo festa junina. Depois os noivos. Minha prima tinha um véu saindo do cabelo que devia ter uns 3 ou 4m. Acredito que só eu tenha visto uma abelha presa no véu se degladiando para sair de lá. Perdoa eles abelhas, eles não sabem o que fazem.

Acabou. Momento de 'Oi, meu, como você cresceu, você tá diferente' e bla bla bla. Tomar chuva e ir para a festa.

Agora sim, bebidas a vontade tudo fica melhor. Dei algumas risadas com alguns familiares mas no terceiro Whiskey eu parei com os olhos de censura da minha vó. Não consigo beber perto dela e da minha mãe, mas deu para ficar bem feliz. Falando em feliz, felizmente o macarrão era de queijo e eu pude comer.

Eu meti o pau na história de familiares falando 'como você tá diferente' mas eu tive o meu momento. Duas primas que não via há anos e agora estão com 13 e 17 anos e estão lindas (se você, tio Enzo, estiver lendo, estou falando com bastante respeito de suas filhas, tá?). Fiquei abismado e me senti um pouco velho, foi a primeira vez que eu vi alguém que eu lembro quando nasceu com 13 anos.

Tira fotinho daqui e de lá. Alguns foras aqui e ali. Tinha uma menina linda, filha de um conhecido da família e que vieram nos cumprimentar no comecinho. Passei o restante da festa a procurando e não achei. Fiquei bem triste. (se você, menina bonita, está lendo isso, pode entrar em contato por favor?).

Quando deu 12h começou a pista de dança e meus avós quiseram ir embora. Eu, como já estava cansado e com preguiça de ficar procurando caronas, aproveitei e vim para casa cedo. Talvez tenha ficado bem mais legal e talvez a menina bonita tenha aparecido.

Que sejam bem felizes. Minha prima é bem legal e o cara é palmeirense! :)