31 maio, 2009

Fica

Vai Mario. Fica todo o teu encantamento.

Eu ficaria triste, mas algo me diz ele nos quer rindo. Sorrio e vejo o mundo pelas tuas letras.


26 maio, 2009

Reflexões de um livreiro-pensante



Sempre ouvi relatos de pessoas que sentem um incômodo ao preencherem o campo 'emprego' em qualquer formulário. Se perguntam se atuar, escrever ou fotografar, normalmente sem salário fixo, se encaixa na vaguidão desse termo e, embora no âmago sintam a pontada de orgulho por se considerarem artistas, respondem ser professores, jornalistas, estudantes. Invejei essas pessoas por tempos pois minhas respostas sempre foram precisas: 'Estudante', depois 'Aux. de Escritório', depois, na vergonha de colocar 'Estagiário', voltava a ser 'Estudante'. De dois anos para cá o incômodo veio ao meu encontro, acompanhado até com a pontadinha de orgulho.

Escreveria que o acaso me tornou livreiro, eu ajudei, fui gostando e fiquei, mais passivo do que ativo. Ao começar a trabalhar em livraria desenvolvi, graças aos colegas de trabalho, um gosto por leituras que hoje, ingenuamente, me orgulho. Em uma reunião ouvimos que somos todos livroeiros, mas livreiro é quem? Quem entende de livros? Quem é dono dos livros para vender? Quem efetivamente vende os livros? Tudo isso junto? O fato é que na hora de responder a lacuna, hesito, e coloco-me como 'Vendedor', que é o que de fato faço. Me coloco igual ao vendedor de lâmpadas, de roupas, de doces e no fim como todos ofícios exigem algum entendimento sobre a mercadoria, cá estou eu aprendendo sobre livros.

Mesmo após a resposta oficial continuei considerando-me superior ao vendedor de cuecas, por motivos que me eram óbvios, mas um pequeno pensamento mudaria minha opinião. Vendo livros para pessoas com muito, mas muito, mais dinheiro do que eu e em conversas na loja começamos a ver como todas pessoas da região tem filhos e, consequentemente, babás. Os filhos parecem mais algo a ostentar do que qualquer outra coisa, chegando ao ponto de vermos mães esquecer os nomes dos filhos na loja:

- Traz o livro aqui... erm... Ra.. Ricardo!

A babá poderia ter soprado, pois todos os dias, está no setor infantil com a criança e a mãe aparece uma vez por mês, aproveita para tratar mal algum funcionário. O setor infantil fica mais fácil de ser identificado pelas negras de uniforme branco/bebês loiros com olhos azuis, do que pelos livros em si. O fato rapidamente concluído foi que os ricos pagam os pobres para cuidar de seus filhos, logo viria a segunda conclusão que me acordou, os ricos nos pagam para ler para eles. Lemos bastante, indicamos de acordo com o que o querem, contamos a história e pronto. O cliente está agora com 'As Brasas', 'Memórias do Subsolo', 'Fim de Partida' e o 'Deserto dos Tártaros' na estante e quando necessário saberá contar o que lhe falamos para impressionar:

Dois clientes nossos se encontram para um jantar. O visitante, ao ver os livros do amigo na estante, diz:
- Esse livro é incrível.
- Nossa, é espetacular. Um tratado sobre a solidão. Tem inclusive uma adaptação para o cinema nos anos 80 que é fantástica.

Nenhum leu, mas o papel do livro ali está bem feito, se bobear até me elogiam para o chefe, ganho um aumentinho e fico sendo um livreiro mais feliz.