31 maio, 2010

Sobre Heróis e Tumbas

Eis um trecho que, quando eu esquecer, eu quero lembrar.

"Mas nem sempre os homens sentados e pensativos são velhos ou aposentados.


Às vezes são homens relativamente moços, indivíduos de trinta ou quarenta anos. E, coisa curiosa e digna de reflexão (pensava Bruno), parecem tão mais patéticos e desvalidos quanto mais jovens são. Pois o que pode haver de mais pavoroso do que um rapaz sentado e pensativo num banco de praça, angustiado por seus pensamentos, calado e alheio ao mundo a seu redor? Às vezes, o homem ou rapaz é um marinheiro; outras vezes, talvez seja um emigrante que gostaria de regressar à pátria e não pode; volta e meia são criaturas incapazes para a vida, ou que deixaram a casa para sempre ou meditam sobre sua solidão e seu futuro. Ou pode ser um rapazinho como o próprio Martín, que começa a ver com horror que o absoluto não existe.


Ou também pode ser um homem que perdeu o filho e que, de volta do cemitério, se encontra sozinho e sente que agora sua existência carece de sentido, refletindo que, enquanto isso, há homens por aí que riem ou são felizes (mesmo sendo apenas momentaneamente felizes), meninos que brincam no parque, ali (está vendo-os), enquanto seu próprio filho está debaixo da terra, num caixão pequeno adequado ao tamanhinho de seu corpo que, quem sabe, finalmente deixará de lutar contra um inimigo atroz e desproporcional. E esse homem sentado e pensativo medita de novo, ou pela primeira vez, sobre o sentido geral do mundo, pois não consegue entender por que seu filho precisou morrer assim, por que teve de pagar por um pecado de outros, com sofrimentos imensos, com seu coraçãozinho torturado pela asfixia ou paralisia, lutando desesperadamente, sem saber por quê, contra as sombras negras que começam a se abater sobre ele.


E este, sim, é um homem desamparado. E, coisa curiosa, pode não ser pobre, é até possível que seja rico, e até poderia ser o Grande Banqueiro que planejava a formidável Operação com divisas fortes, evocada antes com ironia e desdém. Desdém e ironia (agora era fácil entender) que, como sempre, eram excessivos e definitivamente injustos. Não há homem que, em última instância, mereça o desdém e a ironia, já que, cedo ou tarde, com divisas fortes ou não, ele é atingido pelas desgraças, pelas mortes dos filhos, ou irmãos, por sua própria velhice e solidão diante da morte. Terminando, enfim, mais inválido que ninguém, pela mesma razão que é mais indefeso o homem de guerra flagrado sem sua cota de malhas do que o insignificante homem de paz que, por nunca ter tido esta proteção, tampouco sente sua falta."

Ernesto Sabato